20 de dez. de 2014

DIAS 46 A 51 - PISAC e CUSCO - PERU (segunda semana)

   Os dias em Pisac corriam sem grandes novidades. Nossa rotina se bastava a comer e passear. Com o dinheiro curto, fazíamos racionamento de alimento pois ainda não havíamos decidido sobre nosso rumo a partir de Pisac. Comíamos quase sempre miojo, ovo cozido, tomate, sopinhas e arroz. O único mercado da cidade não oferecia opções muito variadas e além de tudo o preço era decidido pelo caixa na hora. A única vez que tentamos comprar algo de diferente lá nos demos mal. Compramos uma caixa de hambúrgueres e quando chegamos na pousada estavam todos mofados.
   Nossa oportunidade de comprar legumes e frutas ou comer algo melhor era aos domingos quando havia a feira livre na praça central da cidade. Eram servidos pratos de comida muitíssimo boa, mas não muito baratos. No domingo da segunda semana compramos um frango assado com batatas fritas. Foi divino.
   Em frente a pousada havia uma vendinha de uma senhora muito simpática. Lá, comprávamos refrigerante pois era mais barato que no mercado e ela nos deixava retornar a garrafa de vidro depois. Um pouco mais adianta havia uma lavanderia e por ter um preço muito bom levávamos nossa roupa para lavar lá as vezes. Outra vezes lavávamos na pousada mesmo.
   O clima em Pisac era sempre frio, entre 7 e 15 graus, mas ao contrário do que se pode pensar era sempre muito agradável. Até mesmo a Mel que veio do Ceará gostava. Pela manhã as montanhas dos Andes que rodeavam a cidade estavam sempre cobertas de neblina e vez ou outra garoava. Mais pela tarde o tempo abria mas quase todo o tempo que estivemos lá esteve nublado.
   Eu já viajei muito mundo afora mas em Pisac vi coisas inusitadas que nem na África vi. Vimos um homem passeando com um porco enorme na coleira. Vimos propaganda política de homens com vestimentas tradicionais incas. Vimos uma missa católica que mais parecia um carnaval e por aí vai.
   Depois de alguns dias fomos finalmente conhecer Cusco. Pegamos as instruções com Davi e partimos cedo. O local de saída dos transportes intermunicipais era no final daquela mesma avenida. Raramente haviam ônibus, quase sempre o que haviam eram vans onde o cobrador ficava na porta gritando o destino. A distância até Cusco não era longa, apenas 55 quilômetros mas a lentidão do trânsito fazia a viagem durar quase uma hora e meia. A van subia montanha, descia montanha, subia montanha, descia montanha e depois de passar por vários vilarejos chegava finalmente a Cusco. O ponto de descida era o terminal de vans no centro da cidade.
   Cusco era uma cidade consideravelmente grande e movimentada. Me lembrou muito uma Campinas peruana. Se não guardasse bem o caminho poderia certamente se perder. Eu procurei um mapa da cidade para comprar mas não encontrei. Mas considerando que apenas nos perdemos uma vez, indo parar num bairro barra pesada, não me saí tão mal.
   Conhecemos a praça de armas de Cusco, compramos cartões postais, cortei o cabelo e visitamos muitas lojas. O mercado municipal foi um episódio a parte. Havia uma infinidade de coisas lá, desde sapos vivos para consumo até artesanatos, legumes e vegetais, roupas, aparelhos eletrônicos e frutas exóticas. Nos fundos do mercado haviam bancadas onde serviam comida. Por cerca de 3 reais podia se comer uma refeição completa, chamada Cena. Primeiro vinha um prato de sopa com mandioca ou choclo (milho), pão e depois o prato principal que normalmente era arroz com batatas-fritas, salada e as vezes pimentão empanado recheado de carne e legumes. Eu achava aquela comida uma delícia, apenas me preocupava com as condições de higiene do lugar. Quando vivi na Africa, passei muito mal diversas vezes por causa de comida contaminada. Foi uma experiência difícil de esquecer.
   Ao final da tarde, retornarmos ao local de parada das vans e pegamos um transporte de volta a Pisac. Eu gostei bastante de Cusco mas me senti um pouco aliviado por estarmos hospedados num local mais calmo e tranquilo. Para mim as desvantagens de Pisac eram duas: internet que praticamente era discada e o grande número de estrangeiros que fazia com que muitas coisas eram vendidas por um preço alto. Os estrangeiros não procuravam muita interação, talvez porque a maioria fosse da Europa e de fato eles são mais reservados. Penso que se todos eles fossem brasileiros iriam todos se unir e acabaríamos conhecendo todos. Perto do Natal tentamos de muitas formas conhecer gente pra passarmos as festas juntos mas não tivemos sucesso. Acabamos fazendo mais amizades com peruanos do que com estrangeiros. 
   No geral Pisac proporcionou uma experiência muito positiva para nós, mas também tivemos decepções lá. Primeiramente com Richard, depois com a falta de abertura com os estrangeiros para fazer amizade (apesar que não se pode culpar totalmente a eles, já que praticamente todos se comunicavam em inglês e o fato da Mel não saber criava um grande obstáculo). Mas a maior decepção ainda estaria por vir. Ela tem nome e endereço: se chama Davi e vive na pousada El Gato Negro. E no próximo capítulo explicarei o porque de eu dizer isso.


Abaixo, algumas fotos de Cusco.




















2 comentários:

  1. Toda vez aqui me bate uma tristeza, xará...

    Queria que sua aventura não tivesse tido um final assim.

    Mas uma aventura termina para outra começar! ;-)

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    1. Pois é, xará. Triste mesmo. Mas tudo tem um porquê e apesar do ocorrido preferimos pensar que a viagem foi um sucesso e nos engrandeceu muito.
      É como você disse, uma aventura termina pra começar outra. A aventura agora é a paternidade, mas certamente o futuro nos reserva outras viagens.

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