Juan Pablo foi trabalhar logo cedo pela manhã, porém retornou para se
despedir de nós antes de partirmos. Tomamos o café, arrumamos as coisas na moto
e pegamos a estrada. A Argentina estava sofrendo com um problema grave de falta
de gasolina. Fomos a todos os postos no caminho e nada de gasolina até quase
sairmos do país. A rota que levava ao Chile era muito bonita, passando pela
Reserva do Aconcágua, subindo e descendo montanhas e fazendo costa com o rio
Mendoza. Fizemos poucas paradas, para esticar as pernas e tirarmos fotos. Na
entrada da Reserva fomos parados pelo bloqueio do exercito para só então
descobrirmos que o farol da moto estava queimado. Liguei os faróis auxiliares e
ele nos deixou seguir viagem sem problemas. O frio intensificava a cada
quilômetro e aguentamos firme até 3 mil metros na cordilheira dos Andes.
Paramos e colocamos mais roupas para suportar o vento gelado.
Mel estava muito empolgada em ver neve, mesmo de longe. Seus olhos
brilhavam de animação. Eu só torcia para não nos aproximarmos dela, pois
pilotar na pista escorregadia com a moto tão pesada não seria nada legal.
Atravessamos um total de 17 túneis na Argentina naquele dia até chegarmos ao
tão esperado túnel do Cristo Redentor, que faz divisa entre Chile e Argentina.
Passamos pelo pedágio, ligamos a câmera e atravessamos o túnel.
No lado chileno avistamos as montanhas cobertas de neve dos Andes ainda
mais perto. Chegamos então na aduana para os tramites burocráticos. O processo
foi longo e demorado. Passamos pelo guichê da imigração argentina, a chilena,
preenchemos três formulários e passei por mais três guichês para só então os
fiscais poderem averiguar a moto. Cães farejadores a cheiraram inteira e para
nossa sorte não tivemos que descarregá-la e abrir tudo para o fiscal chileno.
Seguimos viagem para então encontramos os famosos Caracóles. Vinte e tantas
curvas fazendo zigue-zague descendo a montanha. A descida era tão íngreme de
desliguei a moto até atingir a última curva.
Algum tempo depois chegamos à cidade de Los Andes. Não tínhamos 1
centavo então precisávamos encontrar um caixa eletrônico. Encontrei um posto de
gasolina com um caixa eletrônico do Santander e lá pude sacar dinheiro. Ao lado
havia um supermercado, então fomos até lá para comprarmos arroz e pão para
garantir nosso jantar. Mel ficou, como sempre, cuidando da moto enquanto eu
entrava. Enquanto procurava o arroz escutei dois homens conversando em
português e resolvi apelar. Fui até eles e perguntei se conheciam um lugar onde
seria possível acampar. Eles responderam que na cidade não havia e também
disseram que lá era um pouco perigoso. Após contar nossa situação eles nos
ofereceram abrigo. Eram ambos motoristas caminhoneiros e estavam numa área de
paragem de caminhões 10kms fora da cidade. Disseram que poderíamos passar a
noite lá e que tinham TV, cozinha, banheiro e guardas. Aceitei prontamente e
quando saímos do supermercado os seguimos até o lugar.
A paragem era gigantesca, com dezenas de caminhões e muitos motoristas,
alguns inclusive com a esposa e filhos juntos. A maioria era de brasileiros.
Fomos convidados por três deles para nos sentarmos e tomarmos uma cerveja.
Contaram-nos da vida de motorista de caminhão pela América do Sul e mostraram
conhecer todas as estradas do continente. Eram verdadeiros mapas vivos. Um
deles antes de ir embora nos deu 10 mil pesos (cerca de 50 reais) como
colaboração para nossa expedição. Um gesto nobre totalmente inesperado. Tiramos
fotos juntos e fomos até a sala onde o motorista que nos ofereceu abrigo,
Carlos, preparou o jantar e nos convidou para comermos. Nos esbaldamos com
macarrão, arroz, feijão e carne. Depois passamos algum tempo caminhando pela
área de estacionamento dos caminhões. Os motoristas todos dormiam dentro de
seus caminhões, por isso Carlos disse que poderíamos dormir dentro da sala de
TV. Abrimos nossos sacos de dormir e “capotamos”.
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