Acordei achando que estava no meio da selva amazônica. Pássaros enormes
faziam todo tipo de som diferente, alguns parecidos com peidos e outros com
alarme de carro. Quando Mel foi escovar os dentes fiquei dentro da barraca e
ouvi alguém mexendo nas nossas coisas no lado de fora. Quando abri o zíper da
barraca lá estava um pássaro gigantesco, certamente primo do Pterodátilo.
Estava bagunçando nossos utensílios de cozinha. Com a intimidação achei melhor
entregar o restante do pão duro que foi disputado aos gritos entre ele e outros
pássaros.
Arrumamos a tralha e pegamos a estrada pela ruta 7 numa reta sem fim. Mel
tirou belos cochilos nas minhas costas. Eu tive que parar para tirar o
intercomunicador e ligar o iPod ou certamente iria dormir. Na Argentina as
pessoas dirigem como no Brasil 20 anos atrás. Parece que não há regras muito
claras a respeito de ultrapassagens e como se portar na estrada. Os carros nos
ultrapassam na mesma faixa e fazem manobras muito perigosas. Num certo ponto um
carro vinha ultrapassando um caminhão e estava vindo de encontro a nós. Tivemos
que ir para o acostamento para não haver colisão.
Chegamos em Laboulaye debaixo de chuva lá pelas duas da tarde. Em conta do
tempo decidimos que não seria bom ficarmos em camping então procuramos por uma
pousada ou hotel barato. O GPS resultou em três opções. A primeira custava 390
pesos (130 reais), a segunda 430 (145 reais) e a última, um lugar aparentando
ser bem mais simples custava 190 pesos (64 reais). Aceitamos de prontidão. Uma
senhora nos disse que poderíamos guardar a moto e trazer as coisas para dentro
do quarto e fazermos o check-in depois. Mel achou estranho custar tão barato e
confirmou mais uma vez o preço com a senhora: 190 pesos. Guardei a moto no
estacionamento do hotel, descarregamos e levamos todas as coisas para
dentro. Quando fomos fazer o check-in a
surpresa: Uma outra moça disse que o preço era 290 pesos. A senhora que disse
190 havia saído e quando questionamos o valor dito pela outra disse que
entendemos errado. Sei, sei... E lá se foram 100 reais. Ao menos, pensamos,
vamos nos empanturrar no café da manhã para fazer valer a diferença de preço.
Estávamos mortos de fome, então saímos para procurar algum supermercado ou
vendinha. Estranhamente todos os estabelecimentos estavam fechados. As ruas
estavam vazias e não se via movimentação em lugar algum. Andamos muitas quadras
até encontrarmos um tipo de papelaria. Me informei lá que havia o centro da
cidade estava a 10 quadras e o comércio lá não fechava para o almoço.
Recomeçamos a andar e vinte minutos depois chegamos ao tal centro. Porém, assim
como no resto da cidade, tudo estava fechado. Só havia um lugar aberto naquele
dia frio e chuvoso: uma sorveteria. Que ironia. Voltamos ao hotel exaustos e
mortos de fome. Nos falaram que o comercio fecha ao meio dia e reabre as 17
horas. Para mim é algo inédito. As 5 da tarde atravessamos a rua e fomos ao
supermercado onde compramos lentilhas e salsichas. Cozinhamos na espiriteira
dentro do quarto. Estávamos tão cansados que dormimos às 9 da noite.
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