16 de nov. de 2014

Dia 16 - Montevideo e Colonia del Sacramento

O décimo sexto dia da viagem começou bem, ficou ruim, piorou, ficou péssimo e depois melhorou! Nossa estadia na capital Montevidéu teve que ser cancelada, infelizmente. Partimos do camping em Maldonado pela manhã logo cedo. Imaginava que chegaríamos na capital na hora do almoço, encontraríamos um bom hostel e ficaríamos tranquilos o resto do dia. Mero engano. Quando alcançamos Montevidéu eu simplesmente não conseguia achar um hostel barato para ficarmos. Todos eram muitíssimo caros e inviáveis. E por ser domingo não aproveitaríamos nada da cidade pois tudo estava fechado. Não encontramos nem um lugar para  comprar um cartão postal. 
Num certo momento propus à Mel que fossemos direto a Colonia del Sacramento e lá encontrássemos uma pousada ou algo assim. Mas assim que coloquei o destino no GPS entramos em uma rua bem esburacada e pronto! O pneu traseiro furou. Eu já estava bem cansado e quando aquilo aconteceu eu tive vontade de sentar, chorar e pedir ao Papai Noel que me trouxesse doces. Estávamos em uma rua bem vazia e silenciosa. Subi com a moto na calçada e começamos a descarregá-la para tirar todo o peso. Peguei a bolsa de ferramentas e as chaves necessárias para retirar a roda. Quando tentei desparafusar a roda só faltou minhas veias saltarem para fora de tanta força que eu fazia e o parafuso nem sentia cócegas. Provavelmente meu mecânico pediu ao Incrível Hulk que apertasse aquele parafuso, em Bauru. Depois de tentar por 30 minutos eu já não sentia que conseguiria fazer aquilo sozinho. Fui até a esquina e percebi que logo ali estava um posto da Petrobrás. Pensei que teria sorte lá. Só pensei. Voltei, pedi a Mel que ficasse lá com todas nossas coisas na calçada e empurrei a moto uma volta da quadra completa até o posto. Quando pedi aos frentistas se havia algum mecânico por lá, ou alguém que pudesse me ajudar eles se mostraram nada solícitos e disseram que não. Como estava muito preocupado com Mel e nossas coisas deixei a moto e voltei até onde ela estava para ajuda-la a carregar todas as coisas até o posto. Depois que o fizemos voltei a tentar desapertar o bendito parafuso. Mas sem sucesso. Foi quando avistei uma viatura da polícia parada no posto. Fui até lá e contei o que havia acontecido e se havia como chamarem um mecânico para mim. Me disseram que sim, mas seja lá quem viesse cobraria um braço e uma perna pois eu era estrangeiro e era um domingo. Um deles virou ao outro e resolveram me ajudar.
Os dois policiais desceram da viatura e vieram comigo até a moto. Um deles tentou desparafusar até ficar roxo e ter uma queda de pressão. Teve até que se sentar e tomar uma água. O outro era mais forte e depois de tentar um pouco conseguiu. Ficaram mais um pouco enquanto eu tirava aquele parafuso interminável e depois partiram me desejando sorte e alertando que não ficasse lá até noite pois era uma região perigosa.
Quando consegui retirar a roda da moto caíram junto quatro ou cinco (ou talvez dez) peças que eu não tinha idéia de como iria montar depois. Resolvi me preocupar com uma coisa de cada vez.com a espátula e algumas chaves consegui desencaixar o pneu da roda e depois tirar a câmara. Coloquei a câmara nova e não conseguia montar a roda de volta. Mel teve que ir até o posto de conveniência para pedir a senha do wi-fi para procurarmos um vídeo no Youtube que ensinasse como trocar o pneu da moto. O vídeo não ajudou muito mas depois de muita insistência consegui montar o pneu. Foi quando surgiu um casal em uma moto Yumbo 125 (uma marca bem comum no Uruguai). O rapaz me pediu emprestado uma chave para que ele ajustasse a tensão da corrente. Depois de faze-lo, percebeu que eu estava sofrendo muito para montar a roda de volta na moto. Se dispôs a me ajudar com muita boa vontade. Ele sabia tanto quanto eu de moto, ou seja: porcaria nenhuma. Tentamos isto e aquilo, suspender a moto num carrinho, coloca-la num toco, juntar as peças onde achávamos que deveriam estar. Mas nada dava certo. Num certo momento ele sugeriu irmos até o próximo posto de gasolina pois lá haviam mecânicos. Sua mulher ficou com Mel enquanto eu e ele fomos com sua moto até o tal posto. No caminho ele disse que seu nome era Jorge e me contou que era policial e estava de folga. Já no posto ele contou a situação ao gerente do local. Este por sua vez disse que poderiam sim montar a roda mas teria um custo e teríamos que trazer a moto até lá, o que era impossível na atual situação. Então disse que poderíamos tentar com um mecânico que tinha uma oficina no início de uma ruazinha de terra que assemelhava a uma favela. Lá fomos nós.
Na casa do mecânico o policial contou mais uma vez o ocorrido e este por sua vez se prontificou a nos seguir até o local e montar a roda. Voltamos os três até o posto onde estava a moto. O cara simplesmente sentou atrás da moto e em 3 minutos montou todo aquele monte de peças que estavam pelo chão. Mel disse que eu deveria prestar muita atenção para aprender. O policial Jorge disse que também iria aprender pois lhe seria útil um dia. Mas o mecânico montou tão rápido que nenhum de nós pode ver o que ele fez. Fiquei até com medo de ele não ter feito direito e a moto cair no meio da estrada. Mas por enquanto estamos vivos. Falamos todos sobre o Brasil, Uruguai, viajar, motos e internet. Na hora de pagar o mecânico disse que não iria cobrar nada. Disse que eu poderia pagar quanto quisesse. Dei-lhe 150 pesos, algo como 15 reais. Era pouco mas estávamos todos no mesmo barco financeiramente. 
Todos partiram, eu e Mel montamos rapidamente a moto pois já havia se passado 4 horas e meia com toda aquela bagunça. Pegamos nosso rumo para Colonia del Sacramento. A moto engasgava muito. As vezes parecia que ia morrer de vez. De repente nosso galão de combustível reserva caiu na estrada. Um garoto de bicicleta pegou e me entregou no acostamento. Amarrei-o melhor e seguimos viagem. Quando paramos no próximo posto enchi também o galão, como de costume. Mas assim que íamos sair do posto Mel disse que o galão estava vazando muita gasolina. A queda havia feito um rasgo nele que eu não tinha percebido. Parei, vedei com silver-tape e continuamos. Mas mais pra frente Mel disse que estava vazando demais. Parei mais uma vez e pegamos um pano para ela ir segurando o galão e contendo o vazamento até o nível do tanque da Suki diminuir para eu poder utilizar a gasolina do galão. Neste ponto eu já estava com dores por todo o corpo e muito cansaço. Continuamos firmes e mais ou menos fortes até chegarmos em Colonia del Sacramento.
Pela estrada havíamos avistado quatro motos brasileiras grandes todas cheias de coisas  que passaram voando por nós. Quando chegamos na cidade eles já estavam lá há muito tempo. Paramos perto deles no centro de informação turística e nos apresentamos. Eram quatro homens e duas mulheres. Perguntaram de onde éramos e para onde íamos e nos trataram como seres inferiores. Perguntei se sabia sobre hospedagem e disseram que iam tentar num hotel lá perto. Nós os acompanhamos e quando chegamos todos no hotel foi uma zona sem tamanho. Todos decidiram ficar lá e havia uma senhora de idade na recepção. Ela se desdobrava para conseguir entender o português daquele povo (pois nenhum deles tentava falar sequer uma palavra em espanhol. Pelo contrário, falavam como se estivessem falando com o empregado de casa) e tinha que lidar com todos querendo ser atendidos antes do outro. Ela perguntou se eu estava com eles e antes mesmo de eu abrir a boca um deles respondeu alto: NÃO. Depois que todos já tinha um quarto para ir todos eles quiseram trocar de quarto para o desespero da senhora. Acabei tendo o quarto trocado porque uma das moças não queria ter o quarto com a janela virada pra rua. Eu estava tão cansado que poderia passar o Godzilla na rua e eu não ia acordar. Eu e Mel entramos no quarto e só saímos para comer algo mais tarde. Encontramos um trailler com lanches típicos do Uruguai. Comemos um lanche de linguiça muitíssimo bom. Fomos para casa e me coloquei a pesquisar na internet sobre como iríamos chegar em Buenos Aires. O plano era irmos de navio via Busquebus mas um dos motociclistas disse à Mel que eles iam mas custava 250 dólares por pessoa. Duas horas depois de ele ter dito isso eu pesquisei no site e vi que iria me custar apenas 110 dólares para eu, Mel e a moto. Muito menos do que o rapaz havia dito. Eu queria muito dançar na superioridade dele mostrando nosso bilhete de navio que ele havia dito ter desistido por custar outro preço, mas não o encontrei mais. Que pena.
Fomos dormir à meia noite, para termos que acordar às 2 da manhã.


Um comentário:

  1. O pneu sem câmara te ajudaria e muito nessa situação pois o reparo é simples e pequeno, barato e vc mesmo pode instalar sem nem desmontar a roda da moto.
    Mas pra tirar parafuso apertado umas pancadinhas com um martelo ajudam e muito.

    Pena pelo galão (as coisas vivem caindo hein hauhauahau) e mais ainda pela falta de respeito dos nossos compatriotas.

    Boas estradas!

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